Gênero: Drama/Comédia
Duração: 88min
Origem: Brasil
Direção: Selton Mello
Roteiro: Selton Mello, Marcelo Vindicatto
Produção: Selton Mello, Vânia Catani
Duração: 88min
Origem: Brasil
Direção: Selton Mello
Roteiro: Selton Mello, Marcelo Vindicatto
Produção: Selton Mello, Vânia Catani
Todo ano surge no cinema pelo menos um filme que a princípio, só parece mais um no cinema, mas que tem uma sinceridade incomparável e uma sensibilidade que está se perdendo cada vez mais, usando com maestria toda a magia que uma sala de cinema pode proporcionar. Normalmente, quem faz isso de um modo único é a Pixar, mas esse ano o estúdio ficou só no caça-níquel então esse posto ficou vago. Até agora.
Depois de estrear na direção com um ótimo, mas melancólico filme (Feliz Natal), Selton Mello traz esse trabalho incrível e muito superior ao anterior, daqueles que conseguem fazer o espectador esquecer que está numa sala de cinema, chegando até a ser triste quando o filme acaba, tamanha a felicidade que ele proporciona. E confesso que eu não fui preparado pra isso quando fui assistir O Palhaço…
O roteiro, escrito por Mello e Marcelo Vindicato, traz uma trupe circense comandada por Valdemar (Paulo José) e Benjamin (Selton Mello), pai e filho que no picadeiro encarnam os palhaços Puro Sangue e Pangaré. Benjamin, no entanto, parece meio perdido no que está fazendo, sem a maquiagem e o nariz vermelho, é uma pessoa quieta, triste e vaga, tudo porque não sabe muito bem se está no lugar certo.
A ideia do palhaço triste já foi largamente usada, não só no cinema mas numa série de outras coisas (nunca esqueço a piada do palhaço Pagliacci deWatchmen) e o filme poderia cair no clichê, não fosse o extremo carinho que Mello parece ter pela história, conduzindo o filme de modo cuidadoso e construindo personagens absolutamente adoráveis, que fazem toda a diferença.
Chega a ser espantoso ver como o ator e agora diretor amadureceu por trás das câmeras. Sua direção é segura e um tanto cuidadosa, como podemos ver logo na sequência inicial no circo (que já consegue o feito de ressaltar tudo de melhor do filme), com vários planos que nos fazem esquecer por alguns momentos que estamos vendo um filme, parecendo que estamos assistindo mesmo o simples mas belo espetáculo da trupe. Além disso, o cineasta faz questão de mostrar cada membro da trupe nas suas posições, ressaltando a alegria
que eles sentem de estar ali, mesmo nas funções mais simples, além dos constantes closes nos rostos felizes do público. Só essa primeira cena é de tanta beleza que imediatamente nos ligamos ao filme, pra não desligarmos mais.
que eles sentem de estar ali, mesmo nas funções mais simples, além dos constantes closes nos rostos felizes do público. Só essa primeira cena é de tanta beleza que imediatamente nos ligamos ao filme, pra não desligarmos mais.Apesar de Selton Mello brilhar no papel principal, é ótimo ver que ele passa longe de roubar o filme pra si com a sua arrebatadora atuação. Todo o elenco faz um belo trabalho, destaque é claro, pra Paulo José, que faz rir e chorar (mesmo!) fazendo dupla com o protagonista e diga-se de passagem, como é bom ver esse grande ator num papel de destaque. E a garotinha, Larissa Manoela, uma revelação (sua cena no final do filme é uma das mais lindas que vi no cinema esse ano). Os personagens são tipos simples (o cara mais atrapalhado, o mulherengo, a mãezona…) mas que conseguem encantar e conquistar facilmente o espectador, tanto pela simplicidade já citada quanto pela delicadeza e sinceridade das interpretações. E o que dizer das participações especiais de nomes tão queridos pelos brasileiros, como Ferrugem (“Brincadeirinha moço…”) e Moacyr Franco, este último rendendo um dos melhores e mais engraçados momentos do filme.
Em aspectos técnicos, O Palhaço é primoroso. A fotografia é incrível, especialmente no segundo ato, que é quando o filme ganha um clima de road movie e não perdem a chance de beneficiar cada lugar por onde Benjamin passa. E a direção de arte é impressionante, conseguindo nos mergulhar na época do filme sem que isso precise ser esfregado na nossa cara. O roteiro consegue equilibrar perfeitamente o drama e a comédia, o caminho percorrido por Benjamin, com suas dúvidas e incertezas sobre o que faz e o que deve fazer, em momento algum soa forçado (alias, poucas vezes me identifiquei tanto com um filme em toda minha vida por isso) e a metáfora da história toda (o ventilador) é inteligente e muito bem amarrada, tendo uma bela solução, mas o que vale no filme mesmo é o respeito e o carinho pela cultura circense e toda a sua magia que, com tão pouco consegue encantar tanto.
Num ano que nos apresentou blockbusters que na sua maioria (salvo pouquíssimas exceções) eram mega-produções inchadas mas vazias ou filmes que por melhores que fossem soavam um pouco pretensiosos demais,O Palhaço veio munido apenas de uma boa história e bons atores, porque são esses elementos, mais do que qualquer outro, que vão ter que nos conquistar, afinal, assim como o circo não funciona sem o palhaço e a música, um filme não vale nada sem uma boa história a se contar e bons atores para nos fazer acreditar nela. E tal como um circo mambembe, é com pouco que o filme de Selton Mello consegue fazer rir, chorar e proporcionar toda a maravilha que é ir ao cinema.
Afinal de contas, o gato bebe leite, o rato come queijo… e eu tenho orgulho em dizer que o melhor filme de 2011 até agora, é brasileiro.



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